História de Vila Soares
Vila
Soares é um dos três distritos do município de Apuiarés, o distrito foi criado
através da lei n° 6.445, de 21 de julho de 1963, e anexado ao então município.
Dista, mais ou menos, 15 km da sede que fica a 111 km da capital, Fortaleza. O distrito foi
construído às margens do rio Curu e faz fronteira com o município de Pentecoste
na parte do distrito de Serrota. Seu nome foi dado em função dos seus
fundadores, uma homenagem à família “Soares”. Sua História é de muita luta, mas
também de grandes vitórias.
As
datas não são precisas em relação à fundação de Vila Soares, mas acredita-se
que o povoado foi fundado em meados de 1800, já que há documentos que atestam a
vinda de alguns “Soares” para a região nesse período.
Joaquim
Soares Guimarães veio morar em Vila Nova, município de Pentecoste, e,
posteriormente, Miguel Soares Guimarães (filho de Joaquim Soares) viria a se
estabelecer em Vila Soares e casar-se com Terezinha Martins Guimarães filha de
Chico Martins vindo da região dos Inhamuns. Estes vieram para Apuiarés e
moraram na sede do então município até que o patriarca da família teve uma
desavença com um cangaceiro e mudou-se para o povoado em questão.
Por
longo período, a única casa da região era justamente a da família de Miguel
Soares que depois viria a ser do seu filho Manuel Soares casado com Isabel
Barbosa Guimarães, até hoje viva e morando em Pentecoste. No início ela era de
taipa e vindo a sofrer uma reforma em 1902, ganhando uma estrutura de tijolos.
Ao longo dos anos, o lugar foi ganhando ares de comunidade com construções de casas
e prédios públicos, mas isso posterior ao casamento de Antonio Cardoso com Dona
Fransquinha Cardoso em 1951.
A Igreja
A
Igreja foi erigida em 1943 nas terras doadas por Margarida Soares Guimarães com
a ajuda de toda a população. Conta-se que todos participaram dessa construção,
inclusive mulheres e crianças carregando tijolos, e que ainda ela foi
construída aos poucos. O primeiro batizado na então Igreja foi de Francisco dos
Santos em 1945. Na história do lugar, a Igreja sempre teve papel de destaque
concentrando por longos períodos, além da vida religiosa do seu povo, a vida
cultural. Festas da padroeira, Nossa Senhora da Saúde (dizem ter sido doada e
daí virou padroeira), acabava por ser o único evento da região. De anos em anos
as pessoas se mobilizavam em torno dessa comemoração fazendo leilões,
quermesses onde os jovens se dividiam em dois blocos identificados por fitinhas
amarradas no braço: o partido de cor azul e o partido de cor vermelha.
A educação
A
educação formal também fez parte da nossa história. A primeira escola deu lugar
a uma construção particular, era uma construção simples e pequena que não tinha
uma estrutura adequada para o ensino. Os primeiros professores até hoje estão
na memória de sua população. A professora Altina Quinto foi a primeira mestra.
Depois vieram Zuleika Feijó, Cecília Martins de Castro, Dona Zélia, Fransquinha
Cardoso, Zefinha, Luzia Bandeira, dentre ouras. A maioria delas não ensinou no
atual colégio, que foi uma construção da prefeitura quando Aluízio Cardoso Bezerra
(1971 – 1972) era prefeito do município, em meados de 1971, e Manuel Soares era vereador na época, daí o nome da
escola ser Miguel Soares Guimarães, em homenagem a um de seus personagens mais
eminentes, pai do referido político. Nessa época, os professores tinham um
salário irrisório e muitas vezes nem chegavam a recebê-lo, passavam até de 10
meses sem saber a “cor do dinheiro” e muitas vezes nem recebiam mais, ficando
apenas com as dívidas. Na época também não havia livros, só os possuía aqueles
que podiam comprá-los e o ensino era atrelado à religião católica, sendo que às
sextas-feiras, a aula era de catecismo. Os castigos eram regra e usados,
principalmente na argüição da tabuada, que era feita em círculos, mas também se
castigava com palmatória os desobedientes. Todos que iam para a escola o faziam
porque queriam aprender, já que a educação ainda não era obrigatória.
A casa de farinha
A
casa de farinha era o grande ponto de encontro, muitas pessoas vinham de fora
para as farinhadas e era lá que os jovens namoravam e se envolviam em festejos
culturais da região. Muitas das lendas de Vila soares estavam atreladas a essa
edificação, como o fantasma que assombrava os visitantes para procurar uma
grande quantia em dinheiro que havia sido enterrada no lugar. Muitas crianças,
por longos anos, foram assombradas com “o fantasma da casa de farinha”.
Aos poucos ela foi perdendo o sentido passando
a dar prejuízos e isso muito em função da situação da agricultura do lugar (que
era de subsistência) e não mais possibilitava a sobrevivência para seus
produtores e os produtos derivados da mandioca também terem sido barateados com
o advento de novas tecnologias de produção e armazenamento. Depois de alguns de seus donos terem morrido,
um deles era Manuel Soares, ela foi vendida para a família Cardoso e por longos
anos foi se depredando até que, depois de algum tempo, foi derrubada e no seu
lugar foi construído um campo society particular que até hoje funciona.
Serviços
A
energia elétrica teve sua história dividida em dois períodos: o primeiro quando
era rudimentar, com postes de carnaubeira e sem iluminação na rua e o segundo e
contemporâneo a nós, no mandato de Fábio Alves, que é essa energia da COELCE,
com medidores e iluminação pública. Entre um período e outro a comunidade ficou
sem eletricidade, isso durou certo tempo enquanto a estrutura para a nova
iluminação era colocada. Ficamos à luz de velas, geradores, as televisões eram
à bateria e os alimentos eram conservados a base de muito sal. Ai de nós sem
preciosidade!
A
água encanada é um “luxo” que demoramos a usufruir e veio por meio de uma
associação (ABVC).
Atividades econômicas
As
atividades econômicas desenvolvidas na região eram basicamente a agricultura,
alguns moradores contam que a pobreza era tão grande que os agricultores
levavam tripas secas para comer de lanche e que elas eram comidas frias. O
salário nem sempre era dado em dinheiro, chegando a ser ofertado em moeda de
“farinha seca”, aquela mais cheia de palha.
Ainda
havia a pesca e muitas mulheres trabalhavam para as famílias ricas da região.
Pode-se ressaltar também o alistamento nos programas do governo na época de secas,
onde as famílias que eram mais numerosas podiam alistar mais membros adultos e,
ao cabo, recebiam sestas com produtos com uma qualidade, no mínimo, duvidosa.
Essa era a “indústria da seca” que também chegou ao povoado, onde os recursos
do governo federal se “perdiam” no meio do caminho e aqui os pobres
agricultores, se não quisessem morrer de fome junto com a família, acabavam
tendo que se submeter aos desmandos dos proprietários de terras, construindo
açudes e outras obras que só beneficiaria os latifundiários e isso com dinheiro
público - os poucos tostões que driblavam os bolsos no meio do caminho até
chegar ao nordeste brasileiro.
Como projeto da Feira Cultural, que aconteceu em junho deste ano, a
turma do 9° ano "B" realizou uma ampla pesquisa junto à comunidade de
Vila Soares com o objetivo de obter informações acerca da História do
distrito (já que os documentos escritos sobre ele são quase
inexistentes) e essa pesquisa deu origem a um pequeno livro sobre a
comunidade que foi publicado acima. Ressalta-se, porém, que são
informações pautadas em documentos orais, portanto, sem a devida
comprovação documental exigida pela História.
O livro está incompleto e, ao passo que as informações forem sendo colhidas, elas serão publicadas. Ressaltamos mais uma vez que a obra não tem validade histórica e que qualquer erro será passível de edição. Agradeço imensamente as pessoas da comunidade que nos possibilitaram reunir tais informações em nome dos meus alunos que foram os grandes pesquisadores dessa obra.